Em 1940, a Federação Paranaense decidiu alterar o modelo do Campeonato Estadual, adotando a Fórmula Fraga: dois turnos, com o campeão de cada um se enfrentando em uma final, em uma melhor de três partidas.
Os destaques ficaram para o time do Ferroviário, campeão do turno, e do Athletico Paranaense. Porém, uma confusão na última partida do returno, justamente entre os dois times, mudou o rumo daquele campeonato.
O jogo estava empatado em 2x2, quando Ari Carneiro, do Ferroviário, impedido, anotou o terceiro tento. O resultado daria ao time o título do returno e consequentemente do campeonato, se não fosse a atuação do árbitro da partida, que anulou corretamente o gol, causando a fúria de jogadores e diretoria no campo. Seguro de sua decisão, o árbitro não voltou atrás, fazendo com que o Ferroviário abandonasse a partida. Com isso, o Athletico foi declarado vencedor da partida e campeão do returno. Mas isso foi só o começo.
Além de abandonar a partida, o time do Ferroviário abriu mão de disputar a final, por entender que havia sido deliberadamente prejudicado. Não havia clima e muito menos conversa. Porém, todo campeonato precisa de um campeão e, por entender que o Athletico nada tinha a ver com a situação, a Federação declarou o time rubro-negro campeão estadual de 1940.
Após a eleição de Manoel Aranha para a presidência, o Rubro-Negro começou uma nova etapa de profissionalização, trazendo mais investimentos para dentro do Athletico Paranaense, implementando processos e contratando jogadores importantes para o time. E os resultados em campo provaram que o trabalho estava dando certo.
Em 14 partidas, o Furacão registrou incríveis 11 vitórias, dois empates e uma derrota. Seu ataque era fulminante, balançando o barbante 40 vezes. Guardando a meta, estava Caju, vazado apenas 12 vezes.
Mas o momento mais importante foram os jogos da final: pela primeira vez, teríamos um campeonato sendo decidido entre Athletico e Coritiba, os rivais da capital.
Dois jogos, duas vitórias rubro-negras pelo placar de 3×2. Athletico campeão!
Um lance na segunda partida virou uma lenda: Batista, mesmo com a perna machucada, marcou um gol para levantar os ânimos do time.
“Domina Ibarrola. Puxou pra esquerda. Mandou a bola pra área. Subiu Batistaaaaaaaaa… Goooooooooool”
Para se ter uma ideia, depois do jogo, Batista ficou duas semanas internado com a perna engessada.
Por quê? Porque Athletico também é sinônimo de raça.
O Athletico Paranaense começou o campeonato de 1945 de maneira espetacular. Campeão invicto do turno, melhor ataque e melhor defesa. A ideia de manter uma base sólida, com jogadores experientes e já campeões, dava certo. O Rubro-Negro, jogo a jogo, mostrava toda sua superioridade.
Naturalmente, no returno o ritmo da equipe diminuiu, e o certame ficou um pouco mais equilibrado. Bom para o campeonato, ruim para a torcida rubro-negra, que esperava o mesmo espetáculo e um título antecipado. Mas a verdade é que os deuses do futebol queriam, mais uma vez, que tudo fosse definido entre Athletico Paranaense e Coritiba. E foi assim que aconteceu uma das finais mais emocionantes do Estadual até hoje.
O Coritiba venceu o primeiro jogo em casa, pelo placar de 2×1. No segundo jogo, no Estádio Joaquim Amércio, o Athletico não quis dar sorte para o azar e começou avassalador, abrindo 3×0 em 30 minutos. Porém, uma atuação desastrosa do árbitro, combinada com o nervosismo do segundo tempo, fez com o que o rival empatasse a partida duas vezes. Primeiro 3×3, depois 4×4. Mas o time rubro-negro não desistiu e, dos pés de Cireno, veio o gol da vitória, de falta, nos últimos minutos. 5×4, vitória atleticana e taça decidida no terceiro jogo.
A partida, marcada em campo neutro e com arbitragem de fora, recebeu mais de oito mil torcedores. Um recorde para a época. O Coritiba começou melhor, mas o dia era de Caju, que realizou grandes defesas no primeiro tempo. O Athletico voltou para o segundo tempo melhor, inaugurando o marcador aos 25 minutos. E quando a torcida já comemorava o oitavo título de sua breve história, Neno, artilheiro do Coritiba, resolveu arriscar um chute de fora da área e acertou a gaveta do goleiro Caju, que nada pôde fazer. Final do tempo regulamentar. O Campeonato Estadual seria decidido na prorrogação.
O árbitro apita, o jogo é muito técnico, até que aos oito minutos a rede balança pela última vez em 1945. E o final você já sabe.
“Augusto recebe a bola, passa por Babi, toca para Cireno, que avança para o ataque. Fedalto vem para a marcação. Liiindo drible de Cireno. Cruzou. Xavier subiu mais que todo mundo. É gooooooool do Athletico. Gol do título…”
Um dos títulos mais importantes da história rubro-negra! Em 1949, o Athletico passou a ser chamado de Furacão. E o apelido não era nenhum exagero.
O escrete atleticano foi impiedoso nos dois turnos, aplicando goleadas nos seis primeiros jogos, sendo a mais emblemática um 5x1 contra o Coritiba, em pleno Belfort Duarte. Após duas rodadas do returno, boatos começaram a surgir de que equipes estariam dispostas a abrir mão do campeonato, tamanha era a superioridade do Athletico em campo. Obviamente, foi campeão com rodadas de antecedência e evitando uma disputa de final. Afinal, ganhou os dois turnos.
Sem mais adversários no Paraná, o time começou a marcar amistosos em outros Estados, e os resultados não foram muito diferentes.
No final da temporada, além do título, o Athletico Paranaense bateu o recorde de invencibilidade, registrando 11 vitórias e apenas uma derrota no campeonato.