Clube
Palavra do Presidente
FUTEBOL, PAIXÃO NACIONAL
Futebol no Brasil é questão de interesse nacional. Fenômeno multifacetário, apresenta-se inicialmente como o esporte das multidões. Crianças, adultos, idosos chutam a bola nos campos de grama, sintéticos ou de terra, nos parques, praças e academias. Democrático por essência, o futebol interessa a pobres e ricos, sem discriminação de raça, cor ou religião. Jogadores mais talentosos assumem carreira profissional, conquistam fama e fortuna. Eles destacam-se inicialmente nos grandes clubes brasileiros e consagram-se no exterior, tornam-se celebridades, sinônimo de sucesso. Aos jogadores frustrados, nossa esmagadora maioria, resta o papel de torcedor.
O ápice deste fenômeno é a Copa do Mundo. A cada quatro anos, o brasileiro dirige todo o seu potencial de emoções exclusivamente ao futebol da Seleção. Esquecemos tudo o que verdadeiramente interessa. Até nosso time de coração é esquecido para dar lugar aos craques canarinhos. Hipnotizados, o que nos importa é ganharmos a Copa. De preferência, com partidas espetaculares do time de estrelas, ídolos e heróis que dos quais nos orgulhamos como se fossem a própria representação da Pátria Amada.
A Copa é a nossa desforra com o Mundo. Pouco importam os problemas sócio-econômicos endêmicos do País, que nos envergonham a todos perante os estrangeiros. Na Copa, a equação inverte-se. Europeus tradicionais, americanos endinheirados, asiáticos seculares, africanos ascendentes, todos devem necessariamente curvar-se ao império da nossa bola. O bombardeio de ufanismo pelos meios de comunicação nos faz cegos. Somos os melhores e não admitimos concorrência. Para o torcedor, Brasil pentacampeão é pouco. Queremos o hexa, já! O heptacampeonato, imediatamente após. E assim, sucessivamente, a cada Copa conquistada. Até que um dia, o planeta, extasiado com o espetáculo do nosso talento, outorgue-nos em caráter irreversível e irrevogável o título de reis do futebol. Para a eternidade. Somente daí, então, seremos felizes para todo o sempre…
Mas não foi isso que aconteceu na Alemanha. A Itália é tetracampeã do Mundo. O melhor jogador, francês. O artilheiro, alemão. Quanto a nós, nenhum brasileiro na seleção dos melhores do torneio.
Frustrada a expectativa, é hora de lavar a honra. Do amor ao ódio, sem escalas. Na imprensa apontam-se culpados que enlamearam a honra nacional: atletas, comissão técnica, dirigentes. Ninguém escapa. Heróis de ontem tornam-se vilões de hoje. E novamente, a paixão sobrepõem-se à razão. Ao invés de soluções, preferimos as execuções. Virtuais, na mídia. Satisfazemo-nos com a simbologia de cabeças rolando. E como torcedores continuaremos nos iludindo que somos os melhores. E que daqui a quatro anos iremos à forra…
No mundo real, entretanto, as coisas acontecem de modo diferente. Inicialmente, é necessário que a consciência nacional se dê conta que a Seleção Brasileira não é a Pátria de chuteiras, como insiste a crônica ufanista. Inquestionável, de um lado, que a Copa do Mundo é o maior espetáculo televisivo da atualidade, com cerca de cinco bilhões de espectadores ávidos de emoções via satélite. E justamente por isso é um grande mercadológico e publicitário, capaz de mobilizar gigantescos recursos financeiros. Daí, quando torcemos, importante saber que se fazemos parte do espetáculo, coube-nos o papel de consumidores de um grande produto de entretenimento. Por isso, nada de histerias e caça à bruxas, nas vitórias e nas derrotas, que apenas expõem a fragilidade de nosso perfil terceiromundista.
Todos gostamos de futebol. Mais do que isso, amamos o Clube Atlético Paranaense. Com ele, as nossas emoções são autênticas. Nada de jogo pela TV, mas na Kyocera Arena, cada vez melhor, mais olho no olho com jogadores e torcida interagindo o tempo todo. Acabou a Copa. Seleção Brasileira, só em 2.010.
Hoje, 12 de julho, é a hora do reencontro. Voltemos ao Campeonato Brasileiro. Com o nosso time. Nossa torcida. Nossos irmãos, de paixão e de fé rubro-negra. Vamos à Arena, nossa casa. Lá nosso amor é autêntico, espontâneo, legítimo… E com a força do Furacão, vamos varrer as frustrações e seqüelas desta Copa do Mundo malsucedida.
Saudações rubro-negras,
JOÃO AUGUSTO FLEURY DA ROCHA
Presidente do Conselho Gestor do Clube Atlético Paranaense