Clube
Palavra do Presidente – O retorno de Dagoberto
Um dirigente de clube deve entender e administrar as situações que envolvem seus atletas da maneira mais racional possível. Precisa compreender as nuanças de cada caso, buscar a solução que melhor represente os interesses do clube e ao mesmo tempo dos jogadores. Foi pensando assim que agimos no caso do atleta Dagoberto. Nas negociações, buscamos o melhor para os dois lados. Tentamos sempre o justo, o real, o honesto, o digno. Mas as coisas não aconteceram como desejávamos.
Oferecemos ao jogador Dagoberto uma renda acima de 100 mil reais mensais, entre salários e outros benefícios. Oferecemos ainda 30% de participação nos direitos financeiros no caso de uma transferência, tanto para o Brasil quanto para o exterior. Não foi suficiente. O que mais deseja um jogador que ainda não escreveu sua história no futebol, jogou pouco mais de 40% das partidas que poderia ter disputado, ainda não foi protagonista de nenhuma conquista importante no Atlético e mesmo assim sempre foi respeitado, admirado, idolatrado e querido pela torcida? Apenas o homem Dagoberto pode responder. Bem como aqueles que estão por trás de seus interesses, ou seja, seus empresários, procuradores, representantes ou coisa que o valha.
Nas inúmeras reuniões com o jogador Dagoberto e a empresa “Massa Sports” sempre parecia que, finalmente, tínhamos chegado a um acordo. Ledo engano. Foram exigindo coisas e mais coisas. Até que a conversa se esgotou quando fizeram a mais acintosa das propostas: que a multa contratual para transferência para times do Brasil permanecesse em 5,4 milhões de reais, além de tudo o que já havia sido proposto. Anedota? Piada de salão? Deboche? Seja lá o que tenha sido, ali esgotamos as negociações. A partir daquele momento, o Dagoberto, orientado por seus procuradores, foi à mídia comunicar que ele não negociaria mais com o Atlético. Infelizmente, parte da mídia sempre fica muito à vontade para colocar o clube como o algoz das situações. Alguns veículos disseram que teríamos a intenção de prejudicar o Dagoberto. Para a nossa satisfação, a justiça, no momento certo, trouxe a verdade à tona. Agora, os atleticanos podem analisar os fatos à luz dos acontecimentos.
Fazendo um balanço de tudo o que aconteceu, o sentimento é de que o jovem Dagoberto, apesar de maior de idade e responsável por suas ações, acabou sendo um instrumento para ambições pouco nobres. Ambições estas de pessoas que não ficam satisfeitas em subir um degrau por vez, conquistar as coisas com mérito e justiça. Querem abreviar a história, querem o que seus braços nem conseguem carregar, inebriados pela ganância. Talvez queiram conquistar integralmente os direitos financeiros do jovem Dagoberto. Seria essa a intenção? Fica à cargo de cada pessoa que ler este texto fazer sua análise própria, de acordo com suas idiossincrasias e sua noção pessoal de moral e justiça. Eu, o atleticano Petraglia, tenho a minha opinião. Acredito que seja a mesma da grande massa atleticana, a verdadeira massa que move os passos do Atlético. A massa que defendemos é a imensa, apaixonada, participativa e orgulhosa nação atleticana.
O Dagoberto é ainda atleta atleticano. Veste, se nosso treinador assim precisar, o manto rubro-negro. Ele teve oportunidades de sair do clube, até com muito mais vantagens. Sem contar as várias propostas informais de clubes europeus. Tivemos ainda uma proposta formal do Hamburgo, da Alemanha. Foram ofertados seis milhões de euros, quase 18 milhões de reais por 50% dos direitos federativos, para jogar no país da Copa do Mundo. A “Massa Sports” e o atleta Dagoberto deixaram os dirigentes do Hamburgo, que vieram ao Brasil, sentados esperando, sem dar satisfação, nem por cavalheirismo, tampouco por educação. Quando este tipo de coisa acontece, a pergunta que fica é: com quem exatamente estamos negociando?
Há mais gente por trás disso tudo. Veio a público o nome do Sr. Ademir Adur como parceiro da família Massa em negócios ligados ao futebol, como times profissionais, de categorias de base e escolinhas de futebol. Não sabemos quais seus interesses, não sabemos até onde vão as ligações entre os nomes e as empresas. Mas a intenção não é o bem do Atlético, muito pelo contrário. Instituições grandes e tradicionais como o Clube Atlético Paranaense estão sujeitas a todo o tipo de parasitismo. É o ônus de se tornar gigante e sólido a cada dia. Com medo desse gigante que é o Atlético e sua nação, divulgaram até uma briga entre os sócios, coisa que não convenceu ninguém. As imagens deles e seus nomes e sobrenomes já estão arranhados, não há o que fazer quanto a isso.
Aos atleticanos, um pedido: que não deixem as mágoas tomarem conta de seus corações, afinal o jovem Dagoberto ainda pode percorrer o caminho que sempre se esperou que ele trilhasse, vestindo a camisa rubro-negra. O empenho que ele não teve quando estava em fisioterapia. A gratidão que ingenuamente se esperava dele por ter tido todo o apoio em sua cirurgia nos Estados Unidos e durante a recuperação. Gratidão que ele não demonstrou. As declarações contra dirigentes, contra o treinador e contra o Atlético em rádios e jornais. Toda essa inconseqüência poderá facilmente ser esquecida se ele mostrar o talento que Deus lhe deu a serviço de quem sempre o quis muito bem. Quem sabe assim, as coisas comecem a acontecer de melhor maneira em sua vida. O destino escreve de maneira invisível, porém, indelével e, uma hora ou outra, mais dia, menos dia, nos recompensa ou nos pune. Bem-vindo ao Atlético, mais uma vez, jovem Dagoberto.
MÁRIO CELSO PETRAGLIA
Presidente do Conselho Deliberativo do Clube Atlético Paranaense