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João Paulo: Guerreiro

O semblante sério e a fala concisa escondem uma das figuras mais carismáticas do atual elenco do Atlético Paranaense. Tanto que bastam alguns minutos de conversa, sobre assuntos como a família, os amigos do Bairro Alto e a chegada dele ao Rubro-Negro para ele abrir aquele sorriso e o bate-papo fluir.

Das arquibancadas para o campo, o sonho do volante João Paulo em jogar pelo clube do coração virou realidade. Sonho que começou ainda na infância, no bairro da zona leste da capital paranaense, de onde ele só saía se o convite fosse para ver de perto os ídolos do CAP no estádio Joaquim Américo dos anos 90.

Hoje, ele está no papel de ídolo. Na segunda temporada pelo clube, transformou-se no “Guerreiro” que representa a torcida atleticana em campo. E que daria a vida por ela, como ele mesmo conta em entrevista ao Site Oficial do CAP.

Esse seu silêncio e até a forma meio lacônica com que dá entrevistas. A que se deve isso?
João Paulo: Todo mundo que me conhece já sabe que sempre fui assim. Estive no Paraná Clube e também era assim. [Nas entrevistas] Não gosto de ficar enrolando muito. Prefiro ir direto ao ponto. Não gosto de falar muito também. Por isso vou logo ao que interessa. É o meu jeito mesmo. E agora que estou mais velho, mudar pra quê, né? (sorrisos)

Você já imaginava vestir a camisa do Atlético Paranaense? Já tinha isso como objetivo da sua carreira ou mesmo sonhava com essa oportunidade?
JP: Sempre sonhei em jogar em um time grande. Hoje, realizo esse sonho. Estou no time pelo qual torci desde pequeno e agradeço muito a Deus por isso. Espero ficar por muito tempo aqui. O Atlético para mim é a minha casa. Por isso, hoje tenho que dar a vida pelo Atlético.

http://img580.imageshack.us/img580/4862/gus04projoaopaulo170420.jpgJoão Paulo posa para a foto com o CAP pela Copa do Brasil. “Sempre sonhei em jogar em um time grande. Hoje, estou realizando esse sonho”
Foto: Gustavo Oliveira/Site Oficial do CAP

Então na época de infância, em Curitiba, você já acompanhava o clube?
JP: Pô, direto! Eu ia direto aos jogos do Atlético. Sempre estava lá na torcida. Era um torcedor de arquibancada. Não tinha muito dinheiro para comprar camisa, essas coisas, mas gostava muito do time desde quando vim aqui para a cidade [Natural de Francisco Beltrão-PR, chegou a Curitiba aos oito anos de idade].

No dia a dia de treinos, você até brinca com os companheiros sobre sua infância e os amigos que fez no Bairro Alto. Ainda mantém contatos por lá?
JP: Graças a Deus, conheço muita gente lá. Muita gente que cresceu comigo ali. É um bairro maravilhoso para viver e morar. Sempre vou para a casa da minha mãe. Na verdade, agora não muito, porque meu filho nasceu recentemente e por isso não estou saindo muito. Mas logo estarei lá de novo com a galera, com os amigos para um churrasco ou algo assim.

Até por essa sua identificação com o clube, a torcida nota em você um grande comprometimento. Para muitos, você é um jogador “com a cara do time”. Como você vê isso? Você se imagina como um futuro ídolo do Atlético Paranaense?
JP: Com certeza, estou trabalhando para isso. Procuro fazer cada vez melhor o meu papel dentro do campo para, quem sabe um dia, ser um ídolo do Atlético Paranaense e ajudar a minha equipe sempre.  

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Trabalho. “Procuro fazer cada vez melhor o meu papel dentro do campo para, quem sabe um dia, ser um ídolo do Atlético Paranaense”
Foto: Gustavo Oliveira/Site Oficial do CAP 27/03/2013

Mas como é para o jogador lidar com esse carinho e esse apelo do torcedor?
JP: É sempre bom. Quando estive lá na Ponte Preta [2011 a 2012], foi assim também. Para onde eu ia, todo mundo me reconhecia e vinha me agradecer pelo meu trabalho. Isso é muito bom para o jogador. Dá uma autoestima muito boa.

Quando olha para a arquibancada, você se lembra do tempo em que apenas era um torcedor?
JP: Com certeza. Até porque ainda tenho muitos amigos [ali na torcida] me vendo. Minha família também sempre está ali me assistindo. É por isso que penso que sempre tenho que dar a vida ali dentro de campo. Ou eu faço isso ou eles me cobram lá em casa! (risos)

E de onde surgiu a ideia de subir no alambrado e comemorar com a torcida em São Caetano do Sul, na vitória do CAP por 3 a 1 sobre o time da casa [cena que também se repetiu no jogo do acesso, no empate 1 a 1 com o Paraná Clube, na última rodada do BR Série B]?
JP: Foi uma emoção muito grande. Quando você torce por um time, consegue jogar nesse time e ainda colocá-lo numa Série A, é algo que não tem nem como explicar. E a nossa torcida é demais. Já torci assim como eles também. Então, fazer isso [subir no alambrado] foi tudo de bom.

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No alambrado. Após os 3 a 1 sobre o São Caetano, adversário direto na luta pelo acesso à Série A, o camisa 8 foi para o alambrado comemorar com a torcida rubro-negra. Cena que se repetiu no jogo do acesso, na última rodada
Foto: Gustavo Oliveira/Site Oficial do CAP 03/11/2012

Hoje, trabalhando no clube de coração, você avalia que está vivendo o melhor momento da carreira?
JP: Estou vivendo um bom momento aqui sim. Graças a Deus, fui bem recebido por todos os clubes que passei e fiz belas campanhas.  E é isso que quero mostrar também aqui no Atlético. Sempre que entro em campo, me dedico bastante para o clube que estou defendendo. E hoje esse clube é o Atlético.

Aos 28 anos de idade, quais são os objetivos que você ainda tem na sua carreira?
JP: Eu vou passo a passo. Hoje estou no Atlético e o meu primeiro objetivo era colocar o Atlético na Série A do Campeonato Brasileiro. Agora, vou pensar no próximo. É claro que penso em ser campeão brasileiro e disputar uma Libertadores, por exemplo. Mas é um passo de cada vez.

Para você, era um compromisso colocar o Atlético Paranaense na Série A? Como você encarou esse desafio?
JP: Com certeza, era. Até quando me ligaram para vir para cá, o time não estava muito bem. E você estar em uma Série A [estava na Ponte Preta] e vir para cá é complicado. Mas não me arrependi. Sabia da grandeza do Atlético e aceitei o desafio.  Graças a Deus, fizemos uma boa campanha e subimos.

O que fez você acreditar que o Atlético subiria para a Série A?
JP: Pelo grupo que estava aqui. Era e é agora um grupo muito bom. E por causa dessa nossa torcida maravilhosa também, além dos profissionais que trabalham aqui e sempre acreditaram no nosso trabalho. Com isso tudo, pudemos colocar o Atlético de volta à Série A.

Antes de você entrar em campo, você tem um ritual diferente [instantes antes da última oração com o grupo, ele fica alguns segundos sozinho. Depois, esbraveja e dá um soco na parede] para se concentrar. É o momento em que você “liga” para o jogo?
JP: Com certeza. Tem que entrar em campo assim, ligado. Tem que entrar com o esse espírito de ‘atropelar todo mundo’. É pela sua família que você precisa fazer isso. [O jogo] é como se fosse um prato de comida para nós, jogadores. Então tem que entrar ligado. Porque, senão, são os caras [adversários] que nos atropelam. Joguei muitos campeonatos amadores e o espírito é o mesmo. Você tem que entrar concentrado desse jeito, senão os caras vêm e ‘roubam o seu leite’.
 

http://img42.imageshack.us/img42/4231/gus02projoaopaulo170420.jpgJoão Paulo, nos vestiários do CAP antes de mais um duelo: “O jogo é como se fosse um prato de comida. Tem que entrar ligado”
Foto: Gustavo Oliveira/Site Oficial do CAP 17/03/2013

Além desse ritual, existe algum segredo para o jogador estar sempre bem e motivado para jogar?
JP: [A motivação é] Trabalhar bastante. Todo dia você tem que trabalhar mais que o outro que está ali ao seu lado. Se você deixar cair [o seu nível], o outro vem e ‘te atropela’. Aí já era. Jogar futebol é complicado, às vezes até ingrato. Você sempre tem que estar jogando bem. Então por isso você tem que correr bastante.

O João Paulo é um jogador competitivo?
JP: Sem dúvida. Nunca entrei em um jogo pensando em empatar, sempre em ganhar. Minha esposa é uma pessoa que pode confirmar isso. Quando perco uma partida, chego em casa e vou direto para o meu quarto. Quando coloco os Racionais MC’s [para tocar]  então, ela já até sabe que nem é para entrar no quarto porque senão o bicho pega (risos). É um momento meu, em que procuro até me acalmar. Quando perco, fico com vergonha até de sair de casa.

É assim também dentro de campo?
JP: Sim. Mas, dentro de campo, sou mais tranquilo. Não sou muito de ficar ali discutindo com o juiz, por exemplo. Primeiro tento fazer a minha parte ali dentro de campo.

http://img838.imageshack.us/img838/2841/gus13projoaopaulo020320.jpgTrabalho é o segredo de João Paulo para sempre estar motivado para jogar
Foto: Gustavo Oliveira/Site Oficial do CAP 02/03/2013

Embora o ano de 2012 tenha sido um ano muito bom, também foi um ano muito difícil [perdeu o avô momentos antes da partida contra o Avaí, no Primeiro Turno do BR Série B] para você. Como foi lidar com isso?
JP: Então… É meu trabalho… [pausa a resposta por alguns instantes] Acho que primeiro tem que vir o trabalho. Deus sabe o que faz. Com certeza ele está em boas mãos agora.

Você ficou sabendo da notícia na concentração?
JP: Sim, fiquei. Só que não falei para ninguém. Na verdade, não gosto muito de falar sobre isso, porque é complicado. Depois, contra o Guarani [também no Primeiro Turno], faleceu o avô da minha esposa. Nós éramos muito unidos também. Isso abala. Mas fazer o quê? Deus sabe o que faz.

E mesmo assim você continuou trabalhando normalmente? Por quê?
JP: Sim, sempre trabalhando. Minha esposa mesmo às vezes brinca que, se tiver que nascer meu filho e for dia de jogo, primeiro vou jogar e depois vou ver meu filho.

E de onde você tira forças para tudo isso?
JP: É claro que são situações difíceis. Mas se eu não fizer isso [trabalhar], quem é que vai levar comida para dentro da minha casa? Então eu tenho que pensar na minha família. É igual ao que falei: se eu não estiver ali, trabalhando, outro vem e me ‘atropela’. E aí? A concorrência no futebol é muito grande. Por isso você tem que trabalhar bastante. Graças a Deus, sempre procurei fazer isso. Quando o treino é às 9 horas, saio de casa às 7h30. Sempre gosto de ser um dos primeiros a chegar e também um dos últimos a sair.
 

http://img5.imageshack.us/img5/5113/gus06projoaopaulo170720.jpgMomento difícil. Contra o Avaí [foto], o atleticano jogou de luto. Soube da morte do avô ainda na concentração
Foto: Gustavo Oliveira/Site Oficial do CAP 17/07/2013

E depois que encerrar a carreira no futebol, o que pensa em fazer? Já pensou em ser técnico?
JP: Que nada. Depois que encerrar minha carreira, vou é cuidar das minhas coisas. Pensar na minha família. Todo mundo acha que vida de jogador é fácil, mas não é. Você viaja direto e fica longe da família. Depois de encerrar a minha carreira, vou querer viajar com a minha família. Descansar um pouco.

Como você definiria o João Paulo?
JP: Um cara batalhador, trabalhador. Que corre pelo seu objetivo. Um cara guerreiro, que procura sempre estar ali para o que der e vier.

E quando a torcida entoa o grito “João Paulo Guerreiro”, o que o João Paulo sente?
JP: É algo que faz qualquer um se arrepiar. Quando você escuta uma coisa dessas, daí é que você se transforma e dá a vida mesmo dentro de campo. A torcida sempre nos ajudou muito, sempre compareceu. Por isso que deu tudo certo e conseguimos os nossos objetivos.
 

QUEM É ELE?

http://img33.imageshack.us/img33/4835/gus12projoaopaulo241220.jpg
 

JOÃO PAULO, volante
Nome: João Paulo da Silva
Data de nascimento: 22/02/1985, em Francisco Beltrão-PR
Dominância: destro
Tamanho da chuteira: 38,5. Altura: 1,78m. Peso: 73kg
Início no futebol: começou aos 19 anos de idade, na categoria de formação do São Caetano-SP.
Carreira profissional:
2006: Força Sindical-SP
2007: São José-SP
2007-2008: Londrina
2009: Iraty
2009-2010: Paraná Clube
2010-2011: Albirex-JAP
2011-2012: Ponte Preta
2012-2013: Atlético Paranaense

Primeiro jogo como profissional:
08/04/2006: Força-SP 1 x 2 Capivariano-SP
Estádio Municipal Carlos Ferracini, em Caieiras-SP
Campeonato Paulista Série B1(Segunda Divisão).

Primeiro gol como profissional:
28/05/2006: Sumaré-SP 2 x 4 Força-SP
Estádio: Centro Esportivo Vereador José Pereira, em Sumaré-SP.
Campeonato Paulista Série B1 (Segunda Divisão)
Quarta partida dele como profissional. Marcou o gol aos 5min do 2ºT, o do empate no duelo que o Sumaré vencia por 1 a 0.

No Atlético Paranaense:
33 jogos; 21 vitórias; 7 empates; 5 derrotas; 4 gols marcados. Campeão da Marbella Cup 2013.

UM POUCO MAIS SOBRE JOÃO PAULO
Lazer favorito:
Fica em casa, com a esposa e com o filho.

Música ou grupo musica favoritos:
Racionais MC’s

Prato e bebidas favoritos:
Carne assada. Bebida, qualquer uma.

Ídolo no futebol:
Zinedine Zidane, meio-campo francês.

Um ponto forte:
Marcação, jogo coletivo e bola parada.

Um ponto a melhorar:
“Sempre temos que melhorar, em todos os aspectos. Por isso, trabalho cada dia mais, para sempre jogar melhor” – diz.