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Luiz Alberto: O experiente zagueiro atleticano que virou jogador “por acaso”

A tranquilidade dentro e fora de campo é a principal característica do zagueiro Luiz Alberto, virtude adquirida em quase 20 anos de carreira profissional. Porém, a vida no futebol começou de uma maneira diferente da habitual. O sonho da maioria das crianças brasileiras, que crescem querendo se tornar jogador de futebol, demorou a acontecer para ele.

A infância simples, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, foi marcada por brincadeiras comuns de crianças como pipa, peão e bola de gude. Os raros momentos jogando bola colocavam Luiz em uma posição diferente da escolhida anos depois. “Às vezes, quando eu jogava, ia para o gol. Meu pai tinha o time dos veteranos, tive um primo que fez teste no Fluminense, mas eu não era muito fã de futebol”, relembra.

Mas uma amizade fez com que o menino de 11 anos participasse de uma peneira no Flamengo. Para acompanhar um amigo de infância, Luiz Alberto pediu ao pai para realizar o teste também. A peneira contava com mais de mil crianças e várias etapas. Luiz e o amigo ficaram juntos no clube carioca por três semanas. Na semana seguinte o amigo foi dispensado e a carreira de Luiz Alberto ficou ameaçada.

“Deu aquele baque de ter que começar a ir sozinho. Tinha que acordar às 5h da manhã e pegar três ônibus para chegar. Às vezes tinha que perder aula para treinar. Meu pai e meu primo, que sempre me acompanharam, já não podiam mais me levar. Mas foi coisa do destino mesmo”, relembra com emoção. Mesmo com a dúvida, o então zagueiro ficou e começou a se destacar na equipe carioca. 

A maior dificuldade encontrada no início da carreira ficou por conta das conduções para treinar, pois era necessário pegar três ônibus para chegar ao local dos treinamentos. Luiz Alberto contou sempre com a ajuda do pai (Luiz Mario), da mãe (Maria Isabel) e do primo (Luiz Carlos). “Acordava e via meus pais e meu primo tentando juntar dinheiro para fechar o valor da minha passagem, não querendo demonstrar isso. Foi duro, são coisas que nunca vou esquecer e que me emocionam até hoje”. 

Em pouco tempo, Luiz se transformou em atleta da base do Flamengo. No time carioca passou por todas as categorias até chegar ao profissional. A estreia foi logo em um clássico contra o Vasco da Gama, com 19 anos. Mas o segundo jogo como profissional foi um dos mais marcantes para o zagueiro. Durante uma competição na Holanda, com os juniores do Flamengo, Luiz Alberto foi chamado para retornar ao Brasil e compor o elenco que se preparava para final da Copa do Brasil de 97. 

“Lembro de tudo até hoje. Aquele aeroporto de Amsterdã enorme e eu tinha que me virar. Me deram o bilhete, mas lá dentro eu tinha que achar tudo sozinho. Teve um casal de brasileiro que estava voltando para o Rio de Janeiro e me ajudou”, conta Luiz. Na primeira partida da final da Copa do Brasil, em Porto Alegre, o titular Junior Baiano recebeu o terceiro cartão amarelo e abriu o espaço para a jovem revelação do Flamengo, que foi titular no segundo jogo com o Maracanã lotado, com mais de 95 mil pessoas.

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Argentina:

Em 2010 Luiz Alberto teve uma experiência pouco comum para jogadores brasileiros. Já experiente, o zagueiro atuou na Argentina, defendendo a camisa do poderoso Boca Juniors. Porém, o encanto de estar em uma das equipes mais tradicionais da América do Sul não durou muito. O atleta e a família tiveram grandes dificuldades quando chegaram ao país e ao novo clube.

E estas dificuldades foram bem diferentes das encontradas nas outras vezes em que saiu do país. Na Europa, Luiz teve apenas problemas com adaptação à cultura. “Na França morei sozinho e tive que aprender a me virar. Era novo e tinha tradutor apenas no clube. Mas são coisas boas, que levo para a vida toda. Esse período da Europa me ajudou muito no que sou hoje, amadureci bastante”, revela.

Na Argentina os problemas extrapolaram as quatro linhas e as diferenças culturais. “Me empolguei e fiquei contente quanto tive o convite, mas não quero voltar nunca mais e não indico para nenhum brasileiro”, alerta de início. “Não me trataram mal, mas eles são muito frios e não te acolhem bem”, reclama.

Na bagagem, Luiz tenta carregar apenas as coisas positivas. Nos seis meses de Boca Juniors teve a oportunidade de jogar o chamado superclássico, disputado contra o River Plate. Em partida no místico estádio La Bombonera, o zagueiro passou uma emoção única. “É diferente, nunca tinha sentido isso. Quando entrei em campo, já senti a adrenalina”, destaca. “Disputei vários clássicos, mas não é igual. Lá o jogo é para todo o país. Durante toda a semana só se fala nisso. E dentro de campo, é difícil até escutar o que o companheiro fala, por causa do barulho”.

Experiência:

Luiz Alberto tem um currículo invejável, com passagens por equipes brasileiras como Internacional, Atlético-MG, Santos e Fluminense, além das convocações para defender a Seleção Brasileira. No exterior, atuou na França (Saint-Éttiene), na Espanha (Real Sociedad) e na Argentina (Boca Juniors). 

E foi com essa experiência que o zagueiro foi contratado no ano passado pelo Furacão. Luiz Alberto chegou em um momento complicado, com o time na zona de rebaixamento da Série B. Mas ao lado de todo o elenco, ajudou na arrancada rubro-negra, que garantiu uma vaga entre os melhores da competição e o acesso à Primeira Divisão do Brasileiro deste ano.

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Importância no grupo:

Em sua chegada ao CAP, o experiente zagueiro viu de perto o crescimento de dois jovens talentos do Furacão. Manoel e Cleberson formaram a dupla defensiva em diversos jogos da Série B. Porém, Luiz Alberto ajudou o elenco mesmo no banco de reservas e soube esperar seu momento para entrar na equipe.

“O futebol hoje não tem espaço para vaidade. Por mais que tenha experiência e conquistas, o jogador precisa respeitar o treinador e os demais atletas e sempre pensei assim. Pude ajudar e motivar os companheiros”, ressaltou. “Em alguns jogos em Paranaguá não fiquei nem no banco e aquilo tudo era novidade para mim. Tive que aprender a lidar com isso e a ajuda da minha esposa e dos meus filhos foi fundamental. Nunca deixei de trabalhar e sabia que o meu momento chegaria. Trabalho quieto, para que as coisas aconteçam, porque sei da minha qualidade”, acrescenta Luiz.

A importância dentro do grupo e as boas atuações na reta final da Série B foram fundamentais para a permanência do zagueiro, que pertencia ao Boa Vista. “Tivemos aquela bela sequência e fomos lá para cima. No final do ano, o acesso me deixou muito contente e foi uma conquista importante em minha carreira”, afirma, relembrando o momento mais marcante daquela campanha. “Fizemos um jogo muito bom contra o Criciúma, na penúltima rodada, que nos deixava em uma condição boa para o acesso. O presidente [Mario Celso Petraglia] conversou comigo para renovarmos o contrato e fico feliz que deu tudo certo”, recorda.

CAP 2013:

Com um aproveitamento de 77,7% nos últimos seis jogos do Campeonato Brasileiro, o CAP chegou aos 20 pontos e ocupa a quinta colocação. O zagueiro rubro-negro acredita na força do elenco atleticano para a sequência da competição. “Temos um time forte e uma união muito grande aqui dentro, o que nos ajudou muito no acesso ano passado e que é muito importante”.

“Acredito que as equipes estão em um mesmo patamar. Enfrentamos qualquer time de igual para igual. Temos que acreditar que podemos chegar longe, ficando sempre na parte de cima da tabela”, avalia. “Jogamos contra Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio e poderíamos ter vencido. Se jogarmos aplicado, com o grupo unido, podemos vencer a qualquer momento”, completou Luiz Alberto.

Pendurar as chuteiras:

A palavra aposentadoria não passa nem perto da cabeça do zagueiro Luiz Alberto. Próximo de completar 36 anos, o jogador ainda não estuda essa possibilidade. “Se você me perguntar o que vou fazer ao parar, não sei responder. Não parei para pensar nisso. Quando meu corpo não aguentar mais, aí eu vou parar. Mas pelos cuidados que tenho fora de campo, ainda tenho mais alguns anos”, revelou o atleta.

O zagueiro se dedica nos treinamentos e também nas concentrações para poder prolongar ao máximo sua carreira. “Quando temos uma sequência puxada como agora, com dois jogos por semana, durmo muito cedo. Tenho que descansar e cuidar da alimentação, senão o corpo não aguenta. Além disso, nunca tive lesão séria, o que me ajuda muito nessa idade”, analisa o zagueiro rubro-negro. 

Objetivos:

Com dezenas de títulos importantes na carreira, convocações para a Seleção Brasileira, passagens pela Europa e a disputa de uma final de Copa Libertadores, Luiz Alberto poderia considerar sua carreira completa. Mas o jogador ainda possui um grande sonho no futebol nacional: a conquista do Campeonato Brasileiro. “Eu ainda quero um Brasileiro, que é um título que não tenho. Seria uma conquista para coroar definitivamente minha carreira”, afirmou, pensando já neste ano. “Quero que seja aqui no Atlético Paranaense. Temos que pensar grande, tem que ser dessa forma sempre”, completou Luiz Alberto.

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Fotos: Gustavo Oliveira e Fábio Wosniak / Site Oficial