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Adeus ao maior da história! Despedida de Djalma Santos completa 50 anos

Foto: Sérgio Sade

Há 50 anos, um jogo do Furacão entrou para a história do futebol brasileiro. Não era uma grande decisão. Apenas um amistoso, contra o Grêmio, que terminou empatado em 0 a 0. Mas aquela noite do dia 21 de janeiro de 1971, na Vila Capanema, ficou marcada pela despedida de um dos maiores jogadores de todos os tempos.

Djalma Santos era mais do que um atleta que marcou época na Seleção Brasileira e conquistou inúmeros títulos com a camisa amarela, incluindo o bicampeonato mundial. Em 2000, ele foi eleito pela FIFA o maior lateral direito da história do futebol.

O final dessa carreira gloriosa aconteceu com a camisa rubro-negra. Djalma já tinha 38 anos quando foi contratado pelo Athletico, em 1968. Mas por aqui, fez muito mais do encerrar sua passagens pelos gramados. Foi campeão, mostrou um futebol de primeira classe e entrou para a galeria dos ídolos imortais do Furacão.

Djalma Santos era uma das estrelas do time que colocou o Rubro-Negro em destaque pela primeira vez no cenário nacional, no Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968. Em 1970, foi fundamental na conquista de um dos títulos mais importantes de toda a história athleticana, tirando o clube de uma fila de 12 anos e erguendo seu último troféu, já aos 41 anos.

Seu Djalma

Além da classe demonstrada em campo, o maior lateral-direito da história ficou marcado na vida de seus companheiros pela liderança, espírito vencedor, alegria e humildade. 

Mesmo sendo craque consagrado, que já havia conquistado tudo o que podia em sua carreira, Djalma seguia jogando com a mesma dedicação e comprometimento, nos grandes clássicos ou pelos campos do interior do Paraná.

“Eu era um moleque e ele era um senhor. Ele era muito respeitado por todos, companheiros e adversários. Os atacantes se dirigiam a ele como Seu Djalma. E nós tínhamos muita admiração por tudo o que ele fez. Era uma pessoa abençoada pelo futebol. Um exemplo de atleta. Foi um grande orgulho para mim jogar com um campeão do mundo”, diz o lateral Amauri, que defendeu o Athletico entre 1962 e 1972.

Outro grande ídolo athleticano, o zagueiro Alfredo Gottardi Júnior, relembra episódios que mostram como era a personalidade do grande campeão. 

“Estávamos no campeonato paranaense, acho que foi em 71. Antes do Djalma parar, ele estava fazendo comentários sobre futebol em um jornal de Curitiba. Nesta semana, ele fez críticas dirigidas à prefeitura de Guarapuava e nós íamos jogar no domingo justamente em Guarapuava. Quando chegamos na entrada da cidade, deparamos com uma faixa pendurada no meio da rua com a frase ‘Cada macaco no seu galho’. Fomos para o jogo preocupados com a torcida, sobre o comportamento contra o Djalma. Eis que no começo do jogo, numa bola dividida com o ponta-esquerda, que também era negro, os dois correram para apanhar a bola. Um cara da torcida grita ‘ô negão vagabundo’! O Djalma abraçou o jogador do Guarapuava e se dirigindo ao torcedor, perguntou: ‘Eu ou ele?’. Não precisa dizer que naquele instante acabou a preocupação. Ele era uma figuraça!”, relembra.

Antes mesmo de pendurar as chuteiras, Djalma Santos assumiria o posto de treinador do Athletico. Foi durante o torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1970. Até sua despedida, seria técnico e jogador do Furacão.

O adeus

O final da trajetória de 23 anos de Djalma Santos pelos gramados terminou com mais uma atuação de gala. Após à partida, o jornal “Diário do Paraná” destacou na manchete: “Djalma deu um show na despedida”.

No livro “Athletico, paixão de um povo”, Heriberto Ivan Machado e Valerio Hoerner Júnior, registra: “O jogo de despedida do velho Djalma entrou para os anais do esporte. Que o diga Loivo, ponteiro esquerdo do Grêmio, que naquele dia fez papel semelhante ao do ‘João’ de Garrincha: foi driblado uma dezena de vezes, levou chapéu, meia-lua, ia atrás da bola e Djalma a mantê-la equilibrada na cabeça sem deixá-la cair. Até bicicleta o ‘velho’ deu!”.

Sua última jogada foi uma bicicleta perfeita, junto à lateral direita, aos 43 do primeiro tempo. No intervalo, Djalma deixou o gramado para nunca mais pisá-lo como jogador profissional. Djalma tirou as chuteiras e, empunhando-as no ar, deu a volta no gramado da Vila Capanema, com a torcida rubro-negra cantando a Valsa do Adeus.

Sem Djalma Santos em campo, não tinha mais graça. O jogo terminou empatado em 0 a 0, aos 26 minutos do segundo tempo, porque um transformador do estádio estourou e deixou tudo às escuras, obrigando o árbitro Valdemar de Oliveira a soar o apito final.

Seu Djalma seguiu sendo técnico do Atlético por mais alguns meses, mas logo deixou a função. “Não gostei de ser treinador”, ele diria anos depois. Ainda tentou, em clubes da Bolívia e do Peru. Mas não era mesmo a dele.

Djalma Santos faleceu no dia 23 de junho de 2013, em Uberaba (MG), aos 84 anos.

Athletico Paranaense 0 x 0 Grêmio

Amistoso

Data: 21/01/1971

Local: Estádio Durival Britto e Silva, em Curitiba

Árbitro: Valdemar de Oliveira

Athletico Paranaense: Joãozinho (Rubens); Djalma Santos (Rubens), Ari, Antoninho e Amauri; Sergio Lopes e Valtinho; Valdir (Liminha), Sicupira (Serginho), Valmor (Lori) e Mazolinha.

Grêmio: Jair; Valdir Espinosa, Ari Ercilio, Beto e Everaldo; Jadir e Gaspar; Flecha, Caio (Paraguaio), Bebeto (João Alberto) e Loivo (João Severiano)

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