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A noite de Erádio! Há 67 anos, revelação rubro-negra “explodiu” no clássico

Créditos: Acervo histórico/Athletico Paranaense

Em 1954, uma das promessas do elenco juvenil do Athletico era o centroavante Erádio. Ele havia sido o goleador da equipe nas duas temporadas anteriores. Mas, aos 18 anos, a estreia pelo time profissional ainda parecia distante.

O Furacão se preparava para mais um Campeonato Estadual e o calendário marcava uma disputa com o Coritiba e o Água Verde: o Torneio João Todeschini.

A estreia na competição foi contra o Água Verde e o Rubro-Negro saiu vencedor por 4 a 3. O nome do jogo havia sido um dos “cobras” da equipe. O já veterano meia-esquerda Sanford marcou dois gols e deu uma assistência para Sano.

O segundo adversário era o Coritiba e a partida estava prevista para o dia 10 de março, uma quarta-feira, no estádio do rival. Mas um temporal caiu sobre Curitiba naquela noite e o clássico acabou transferido para a semana seguinte.

O adiamento aumentou ainda mais a expectativa para o confronto. Ainda era recente a lembrança do último Athletiba, no dia 21 de fevereiro. Em um amistoso, o Athletico foi o vencedor por 4 a 2, com dois gols de Sanford.

O craque e o novato

Na véspera do clássico, o treinador Otávio Castro, o Vico, chamou o artilheiro do time juvenil para participar do último treinamento. Erádio foi um dos destaques da atividade, que terminou em preocupação: Sanford sentiu uma contusão.

No dia 17 de março, os jornais anunciavam a partida daquela noite e a escalação do Athletico vinha sem surpresas. Mas a apreensão se confirmou. Sanford não tinha condições de atuar. A opção do técnico foi pelo garoto que vinha pedindo passagem.

Aos 86 anos, Erádio lembra em detalhes o dia que o colocaria na história do Athletico e do maior clássico do futebol paranaense. “Eu tinha 18 anos, era muito rápido e havia sido o goleador do juvenil por dois anos. O Sanford se machucou e o técnico me escalou de última hora, na meia esquerda. Foi a minha estreia no profissional”, conta.

Uma noite para a história

A oportunidade de estrear justamente no clássico não foi um peso para Erádio. Ao contrário, foi vista pelo garoto como a chance de mostrar que estava pronto para brilhar também no time principal. E com que personalidade ele agarrou a oportunidade…

E logo aos 11′ de jogo, o jovem artilheiro mostrou a que veio. Em uma arrancada espetacular, Erádio abriu espaço entre a defesa adversária, deixou o lateral Fábio completamente perdido e bateu com força para a rede: 1 a 0.

Aos 33′, Sano chutou forte e acertou a trave. Erádio pegou o rebote, driblou dois adversários e marcou o segundo. E ainda no primeiro tempo, aos 37′, em mais uma linda jogada individual, Erádio fez fila na defesa rival e anotou 3 a 0 para o Furacão.

“Eu não gostava de passar a bola. Nos três lances, driblei dois, três jogadores do Coritiba e fiz os gols. Ninguém tirava a bola de mim”, conta Erádio, sem falsa modéstia.

Mas o show do novato atacante não parou por aí. “Quando voltamos do intervalo, o time do Coritiba já estava formado em campo e a bola era nossa. Na hora de dar a saída, eu vi o goleiro Hamilton conversando com o Fedato. Pedi a bola para o Lobato e mandei direto para o gol. Quando eles perceberam já era tarde”, recorda Erádio.

Era o quarto gol de Erádio no clássico. No primeiro minuto da segunda etapa, o placar do estádio Belfort Duarte marcava 4 a 0 para o Athletico.

Reação e pancadaria

Com a goleada construída, o time rubro-negro se acomodou em campo. E numa época de um futebol mais lúdico e de menos pudores, começou a chamar o rival para o “olé”.

“Nosso time não jogou mais. Eu parei em campo. Uma pena, porque poderia ter feito mais um ou dois gols. Em uma jogada, driblei a defesa deles e fiquei livre. O Alcione pediu para eu sentar em cima da bola e eu sentei, de frente para o gol. Não tinha goleiro, nem nada. Aquilo mexeu com eles e o Coritiba era um timaço”, diz Erádio.

Com os brios atiçados, o rival aproveitou a desconcentração dos athleticanos. Periquito descontou aos 33′ e o artilheiro coxa-branca Ivo marcou aos 40′ e aos 44′. Mas não houve tempo para impedir o triunfo rubro-negro por 4 a 3.

Quando o juiz apitou o final do jogo, o ala alviverde Marcio foi tirar satisfações com Erádio, que não se intimidou. Ambos trocaram agressões, dando início a uma briga generalizada, que envolveu os dois times, comissão técnica e se espalhou pela arquibancada.

Mas nem a reação do rival, nem o lamentável desfecho, apagaram o brilho do jovem herói da noite. Em sua primeira partida, Erádio já tinha escrito seu nome na história rubro-negra. Além dele, apenas dois jogadores marcaram quatro vezes em um Athletiba: o athleticano Guará, em 1946, e o coritibano Ninho, em 1924.

Carreira abreviada

Com a estreia espetacular, Erádio foi imediatamente alçado à condição de uma das estrelas do Furacão. Mas a sequência não foi fácil para o garoto. Com uma personalidade tão marcante quanto a velocidade e habilidade de seu jogo, ele encontrou resistências.

“Sofri um boicote dos meus amigos. Já no segundo jogo, eu era a estrela do time, continuei fazendo gols e os veteranos não acreditavam. O técnico, infelizmente, aderiu ao boicote e me escalava fora de posição, na ponta. Não joguei nenhuma vez como centroavante”, afirma.

Essa é a versão de Erádio para o que aconteceu. O fato é que, seja qual for o motivo, ele não se firmou na equipe titular. E ao final da temporada de 1954, acabou se transferindo para o Água Verde.

“Infelizmente, joguei só um ano no Athletico. E no Água Verde, logo na primeira temporada, machuquei os ligamentos do joelho e nunca mais consegui jogar direito. Parei com 22 anos”, conta o antigo craque. “Mas sou Athletico até a morte. Hoje, tenho cinco netos e todos são rubro-negros. Quem mais pode contar essa história?”, questiona.

Na história: Coritiba 3×4 Athletico Paranaense
Torneio João Todeschini
Data: 17/03/1954
Local: Estádio Belfort Duarte, em Curitiba (PR)
Horário: 20h30
Árbitro: José Ferreira dos Santos

Coritiba: Hamilton; Fedato e Araújo; Fábio (Márcio), Guimarães e Merlim; Ari, Miltinho, Ivo, Periquito e Renatinho
Técnico: Nuno Fernandes
Gols: Periquito, aos 33′, Ivo aos 40′ e aos 44′ do segundo tempo

Athletico Paranaense: Ivan; Damião e Cesquim; Belfare, Betine e Ubirajara; Boluca, Sano, Erádio, Lobato e Alcione
Técnico: Otávio Castro (Vico)
Gols: Erádio, aos 11′, aos 33′ e aos 37′ do primeiro tempo; Erádio, a 1′ do segundo tempo

Imagens: Acervo histórico/Athletico Paranaense

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