Clube

53 anos de um jogo lendário! Como o Furacão superlotou a Vila Capanema e derrotou o Santos em 1968

O dia 8 de setembro de 1968 é uma data marcante da história do Furacão. Naquele domingo, há 53 anos, mais de 24 mil pessoas se espremeram nas arquibancadas da Vila Capanema para ver o Athletico derrotar o Santos por 3 a 2.

O jogo, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, é cercado por mitos e lendas. Contados por quem jura que esteve lá, por quem realmente esteve ou por todos os que já ouviram falar da incrível jornada do Furacão contra um dos melhores times do mundo.

Para não deixar qualquer dúvida sobre o feito do Rubro-Negro e de sua torcida naquela tarde histórica, preparamos uma lista com as perguntas mais frequentes sobre o jogaço.

1) Por que aquele jogo mobilizou tanto a torcida rubro-negra? 

O Athletico vivia uma seca de 10 anos sem títulos. Mas também um momento de renascimento, com a revolução liderada por Jofre Cabral e Silva e o timaço cheio de estrelas montado pelo presidente, que havia falecido pouco antes.

Dias antes do jogo contra o Santos, o Furacão tinha perdido a chance de encerrar o jejum, em uma final contra o Coritiba. Mas um gol no último minuto tirou o troféu das mãos dos athleticanos.

O Robertão era um embrião do Campeonato Brasileiro. Era a primeira vez que o Athletico enfrentaria os grandes clubes do Brasil em uma disputa direta. E o timaço que já contava com Bellini, Djalma Santos, Dorval, Zequinha, Gildo e Zé Roberto ganhou mais reforços.

Representante do Estado na competição, o Furacão recebeu o empréstimo de jogadores de outros times da cidade. O Coritiba cedeu o goleiro Célio e o lateral Nilo. O Ferroviário, o zagueiro Vilmar e o atacante Madureira. E o Água Verde, o lateral Zé Carlos.

E no primeiro jogo da competição, contra o São Paulo, uma nova contratação havia saído do banco para marcar um golaço de bicicleta: o jovem ponta de lança Sicupira.

Como se fosse pouco, ainda havia o adversário. Ninguém menos que o lendário time do Santos, que contava com feras como Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel, Clodoaldo, Pepe… E, é claro, Pelé.

2) Como entrou tanta gente na Vila Capanema?

Atualmente, a capacidade de público da Vila Capanema é de 16.772. Em 1968, muito antes da construção dos camarotes da reta do relógio e da curva norte, o estádio contava com ainda menos lugares fixos. O público total de mais de 24 mil pessoas, registrado naquela partida entre Athletico e Santos, é mesmo surpreendente.

Mas ele tem explicação. Antes da disputa do Robertão, o estádio havia recebido a instalação de arquibancadas “desmontáveis” de madeira, no setor atualmente ocupado pela curva norte. Além disso, as bancadas de madeiras que ficavam nas sociais foram retiradas, abrindo ainda mais espaço.

Para a partida entre o Furacão e o Peixe, oito novas catracas foram instaladas, para dar vazão ao grande público esperado. E a abertura dos portões foi marcada para o meio-dia.

Como a renda seria dividida com Ferroviário e Coritiba, segundo o acordo que resultou no empréstimo dos jogadores dos rivais, todos se mobilizaram para aproveitar a ocasião ao máximo.

As mulheres, que até então tinham entrada liberada, também passaram a pagar ingresso. Com preços reduzidos, é claro. E foi montada uma estratégia de venda antecipada de bilhetes, na Baixada e no antigo café Senadinho, na Rua XV de Novembro.

O dinheiro da época era o Cruzeiro Novo e os valores foram fixados em NCr$ 15 nas sociais, NCr$ 5 nas populares e NCr$ 3 para senhoras e senhoritas. Menores de 14 anos, acompanhados pelos responsáveis, não pagavam.

Em valores atualizados pelo IGP-DI, dá pra ver que os preços não foram baixos. R$ 180 nas sociais, R$ 60 nas arquibancadas e R$ 35 para mulheres.

No final, o público pagante de 19.838 pessoas resultou em uma renda NCr$ 99.810,00, o equivalente a R$ 1.253.650,60. Ainda foi registrada a presença de 4.465 menores, resultando no público total de 24.303 pessoas.

A maior multidão registrada em estádio paranaenses até então e o recorde absoluto da Vila Capanema até hoje!

3) Por que, afinal, Pelé não jogou?

A anunciada presença do Rei do Futebol causou furor em Curitiba. Além do grande time Athletico, Pelé era a grande atração para a partida. E todos davam como certa a sua presença até a sexta-feira anterior à partida.

Porém, o Rei não veio para Curitiba. Segundo o técnico do Santos, Zito, ele estava “com uma gripe, ou uma sinusite”. Mas o real motivo provavelmente foi o desgaste físico causado pela maratona de jogos que o Santos enfrentava na época.

O time paulista vinha da disputa de um torneio na Argentina, onde enfrentou Boca Juniors, River Plate, Benfica, Nacional e dois times do EUA: Atlanta Chiefs e Oakland Clippers.

A entrevista de Pelé no retorno ao Brasil dá a dica do real motivo da ausência: “Desejo uma decisão sobre se devo ou não ir a Curitiba. Caso não viaje, aproveitarei o fim de semana para viajar com a Rose, coisa que não faço há muito tempo”, disse.

Mas mesmo sem Pelé, o time do Santos ainda era um esquadrão, apontado por todos como grande favorito para a partida contra o Furacão.

4) Como o Athletico conquistou a vitória?

Não há uma única explicação. A força da torcida, que transformou a Vila Capanema em um caldeirão. A grande motivação dos jogadores athleticanos em mostrar serviço contra a grande equipe do Brasil na época. A estratégia perfeita montada pelo técnico Nestor Alves. A qualidade do timaço rubro-negro…

No início da partida, parecia que o Santos iria confirmar seu favoritismo. Forçando o jogo pelas pontas, com Edu e Pepe, o Peixe causava problemas para a defesa do Furacão. E aos 15′, Toninho Guerreiro colocou o time alvinegro na frente.

Ao invés de abalar o Athletico, o gol parece ter dado mais forças aos jogadores rubro-negros. As tabelas entre Madureira e Zé Roberto desmontavam a defesa santista. E aos 33′, veio o empate. Zé Roberto aproveitou cruzamento na área e tocou de cabeça.

Com o placar igualado, o Athletico voltou arrasador para a etapa final. Foram quatro minutos de pressão até que Paulista lançou para Madureira, que passou por dois santistas e tocou para Nilson Borges. O ponta rubro-negro driblou Carlos Alberto, passou por Ramos Delgado e bateu forte. A bola sobrou para Gildo, que mandou para a rede. Era a virada!

Dominando o meio de campo com Paulista e Nair, que sempre acionavam com perigo os pontas Nilson Borges e Gildo, o Athletico ia envolvendo o adversário. Até que, aos 17′, saiu o gol que merecia uma placa na Vila e pode ser visto até hoje na internet.

Madureira recebeu na ponta-esquerda e partiu para cima da defesa santista. Tocou entre as pernas de Carlos Alberto, deixou Ramos Delgado caído com uma finta, driblou o goleiro Cláudio e mandou uma bomba de pé direito. Rildo ainda saltou na bola, tentando tirar com as mãos, mas ela entrou na gaveta. Um golaço digno de Pelé!

Com 3 a 1 no placar, o Athletico passou a tocar a bola de pé em pé, buscando com tranquilidade os espaços, fazendo o tempo passar e não dando qualquer chance de reação ao poderoso adversário. Foi só aos 43′, em um lançamento de Clodoaldo para Edu, que o Santos conseguiu marcar o seu gol de despedida.

Uma vitória monumental do Furacão!

Na história: Athletico Paranaense 3×2 Santos
Torneio Roberto Gomes Pedrosa 1968: Segunda rodada
Data: 08/09/1968 [domingo]
Horário: 15h30
Local: Estádio Durival Britto e Silva, em Curitiba (PR)
Árbitro: Arnaldo César Coelho (SP)
Assistentes: Waldemar Nader (PR) e Kalil Karam Filho (PR)

Público pagante: 19.838
Público total: 24.303
Renda: NCr$ 99.810,00

Athletico Paranaense: Célio; Djalma Santos, Bellini (Vilmar), Charrão e Nilo; Paulista e Nair; Gildo, Madureira, Zé Roberto e Nilson Borges.
Técnico: Nestor Alves
Gols: Zé Roberto, aos 33’ do primeiro tempo; Gildo, aos 4’, e Madureira, aos 17’ do segundo tempo

Santos: Cláudio; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Negreiros e Clodoaldo; Edu, Toninho Guerreiro, Douglas (Marçal) e Pepe (Abel).
Técnico: Zito
Gols: Toninho Guerreiro, aos 15’ do primeiro tempo; Edu, aos 43’ do segundo tempo

Comentários

MARCO ANTONIO TURECKE
3 anos

Excluir
Pois é realmente um grande jogo, não estive no estádio mas ouvi pelo rádio, tinha 10 anos na época. Hoje em 2021, temos que reviver os grandes times que tivemos pois este atual é pífio, fraco e sem qualidade e os jogadores que entram substituindo os titulares (que já não são tudo isso), nos faz chorar de raiva pela má vontade que entram em campo. Mais um ano perdido por um planejamento não existente e uma diretoria sonhadora que acha que com esses medíocres atletas chegaremos a libertadores e "campeões do mundo" como disse um tempo atrás o Coronel Petarglia. Sorte se não cairmos este ano. Saudações de um rubro negro enganado mais uma vez.