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Márcio Azevedo: Do sonho e pesadelo na Europa ao desejo de retornar ao Athletico

Créditos: Miguel Locatelli/Site Oficial

A infância em Guarabira, cidade paraibana com pouco mais de 50 mil habitantes, traz recordações essenciais na vida de Márcio Azevedo. Do apego com a família, com quatro irmãos, ao sonho por um futuro no futebol profissional. Foi neste cenário que o lateral athleticano cresceu, em uma cidade pouco acostumada ao sucesso.

Estimulado pelo pai, amante do esporte, Azevedo não se imaginava em outra carreira. E a disputada corrida no futebol começou a ganhar corpo na própria cidade, em uma escolinha conhecida como Guarabirinha. De lá, foi chamado para o Jalesense, da cidade de Jales (SP). Sete meses depois, teve a oportunidade de fazer um teste no Juventude e passou. O sonho estava se tornando realidade.

O passo seguinte foi no Fortaleza, entre 2007 e 2008. Na sequência, a chegada ao Furacão. “Foi uma oportunidade que mudou a minha carreira, até pela visibilidade que o Clube tem. Eu fiquei sete meses no Fortaleza, me destaquei e vim para cá”, relembra. Em 2010, o destino foi o Botafogo, último passo antes de realizar outro sonho, o de jogar na Europa.

Márcio Azevedo se transferiu para o Metalist, da Ucrânia, em 2013. Depois, defendeu o Shakhtar Donetsk (Ucrânia) e o Paok (Grécia). No total, foram seis anos vivendo o sonho, mas também acumulando dificuldades.

“Apesar de eu ser de um lugar muito quente, sempre gostei do frio. Mas a adaptação à língua e ao clima foram difíceis”, destacou. “Só que eu estava realizando um sonho. Ligava sempre para a minha família e para os meus amigos, falando dessa alegria. Foi um aprendizado muito bom e não me arrependo de nada”, completou.

Só que uma lesão grave, na cartilagem no joelho, fez com o lateral ficasse 1 ano e 4 meses sem atuar. Sem conseguir fazer o que mais gostava, o pensamento de encerrar a carreira, mesmo precocemente, era recorrente. O apoio da esposa e das filhas foi fundamental pra que Azevedo não abandonasse os gramados.

Mas o prazer de estar em campo só reapareceu quando o jogador voltou a vestir a camisa rubro-negra. E não foi um retorno qualquer, em vários sentidos. Sem querer permanecer na Europa, ele ligou diretamente ao presidente Mario Celso Petraglia e revelou a vontade de continuar a história no Furacão. Mas ele não imaginava que os capítulos seguintes seriam de tanta glória.

Em um ano e meio, Márcio Azevedo recuperou a alegria de jogar bola, deixou de lado a desconfiança do torcedor, continuou ajudando na formação de novos laterais e colocou mais três taças na galeria. Além da Conmebol Sul-Americana, em 2018, o jogador foi titular na conquista da Levain Cup e na trajetória da Copa do Brasil 2019.

Antes do retorno para a temporada 2020, o Site Oficial traz uma entrevista especial com o lateral-esquerdo athleticano, que traz curiosidades da carreira de Azevedo, incluindo as dificuldades e o desejo de retornar ao Rubro-Negro.

Chegada à Europa
“Para mim, o sonho era jogar na Europa. Não imaginava jogar contra os melhores do mundo, estar em uma Champions League. Foram 3 na minha carreira e foi inesquecível. Olhava muito a forma desses caras jogarem, tirava muitas coisas. Isso eu carrego comigo até hoje”.

Evolução
“Evolui com toda a certeza, principalmente na parte defensiva. Eu sempre fui de atacar muito e sofri quando eu cheguei. Lá você precisa marcar bastante, mas me adaptei rápido e pude melhorar em todos os aspectos”.

Conflitos e dificuldades na Ucrânia
“Eu sempre fui muito bem recebido no país e vivi muito bem lá, mas pegamos alguns momentos de conflitos. Na época, o diretor do Metalist deu garantia de que qualquer problema, nós teríamos um avião para voltar para o Brasil. Então, sempre nos sentimos seguros e não vivemos nada de diferente nas ruas.

Lesão e desejo de parar
“Eu tive uma lesão grave na cartilagem do joelho e fiquei 1 ano e 4 meses sem jogar. Para mim, foi uma das coisas mais difíceis da minha vida e pensei muitas vezes em parar de jogar futebol. Eu não tinha mais força. Fiz várias tentativas, fui para outros países, especialistas, mas não conseguia nem correr direito. Queria parar mesmo. No Brasil já seria difícil, imagine em um país complicado para se expressar. Mas minha esposa e minhas filhas foram fundamentais nesse momento”.

Retorno aos gramados
“Eu voltei a jogar ainda pelo Shakhtar, mas estava muito desanimado mesmo. Fui para o Paok, fiz alguns jogos, fui campeão da Copa da Grécia. Só que eu não tinha mais aquele brilho no olho para jogar. Quando acabou meu contrato, sentei com a minha esposa e falei que não queria mais. Apareceram algumas coisas da Europa, mas não eram tão boas. Queria voltar para casa. Ela me deu forças para continuar e me incentivou a seguir jogando”.

Telefonema que mudou os rumos
“Eu precisava decidir o meu futuro e, novamente conversando com a minha esposa, falamos do Athletico. Seria um retorno para casa, para um lugar que me fez bem e uma cidade que gostamos muito. Através de um amigo, liguei para o Petraglia e falei da minha vontade de voltar. Ele me retornou depois de alguns dias e falou que era para eu vir pra cá conversar. Peguei minha mala e vim. Nem me preocupei de como seria o contrato, quanto ia ganhar. Só queria mesmo voltar a me sentir bem e ter alegria de jogar”.

Brilho nos olhos e títulos
“Voltei depois de oito anos e vi um Clube transformado. Quando eu cheguei aqui, estávamos na parte de baixo da tabela, mas sabia que era questão de tempo, até por tudo que o Athletico tinha evoluído. E foi o que aconteceu. Fomos subindo no Brasileiro, conquistamos a Sul-Americana e o resto da história todo mundo já conhece. Depois de tudo que eu passei, não imaginava viver isso novamente”.

Ajuda aos laterais mais novos
“Por tudo o que eu aprendi, tento sempre ajudar os jovens, principalmente da minha posição. Não tem disputa de vaga, tem o interesse maior do Clube e um precisa do outro. Aqui no Athletico, tive essas alegrias. Primeiro com o Alex Sandro. Concentrávamos juntos e, mesmo com a pouca idade, aprendi muito com ele. Com o Renan Lodi sempre conversei muito e nos ajudamos aqui dentro. Agora tem o Abner, que é mais novo, o Adriano que tem experiência de sobra e vamos sempre juntos pelo bem do Clube.

Título da Copa do Brasil
“Foi especial demais para mim, até por ter assumido a titularidade do time. Teve um momento da competição que eu não estava bem. Eu tinha consciência disso. Eu me cobro muito e tinha também a cobrança da torcida. Mas eu não abaixei a cabeça. Foi aqui que eu tive esse prazer novamente de jogar futebol, trabalhei muito para dar a volta por cima e conseguimos esse título inédito e tão importante”.

Azevedo fora de campo
“Sou um cara tranquilo, que ama a família e se sente realizado. Minha esposa e minhas três filhas representam tudo na minha vida. Se não fossem essas mulheres, eu já teria parado de jogar. Elas me deram forças, lutaram comigo e me ajudaram a voltar para cá. Vim, pude jogar, ajudar a colocar o Athletico em outro patamar e dar esse orgulho a elas”.

2020
“O trabalho tem que continuar. Temos que seguir brigando por títulos. Temos muitas competições importantes de novo, incluindo a Libertadores. É um time que está reconhecido, respeitado e vamos sempre entrar para buscar as vitórias. Esse é o desejo do Clube e dos jogadores”.

Fotos: Miguel Locatelli/Site Oficial

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