Em 1940, a Federação Paranaense decidiu alterar o modelo do Campeonato Estadual, adotando a Fórmula Fraga: dois turnos, com o campeão de cada um se enfrentando em uma final, em uma melhor de três partidas.
Os destaques ficaram para o time do Ferroviário, campeão do turno, e do Athletico Paranaense. Porém, uma confusão na última partida do returno, justamente entre os dois times, mudou o rumo daquele campeonato.
O jogo estava empatado em 2x2, quando Ari Carneiro, do Ferroviário, impedido, anotou o terceiro tento. O resultado daria ao time o título do returno e consequentemente do campeonato, se não fosse a atuação do árbitro da partida, que anulou corretamente o gol, causando a fúria de jogadores e diretoria no campo. Seguro de sua decisão, o árbitro não voltou atrás, fazendo com que o Ferroviário abandonasse a partida. Com isso, o Athletico foi declarado vencedor da partida e campeão do returno. Mas isso foi só o começo.
Além de abandonar a partida, o time do Ferroviário abriu mão de disputar a final, por entender que havia sido deliberadamente prejudicado. Não havia clima e muito menos conversa. Porém, todo campeonato precisa de um campeão e, por entender que o Athletico nada tinha a ver com a situação, a Federação declarou o time rubro-negro campeão estadual de 1940.
Ponta-esquerda da rara habilidade, chegou em Curitiba em 1942 para se tornar um dos ídolos mais polêmicos da história do Athletico.
Cireno era um jogador que não levava desaforo para casa. Por isso, além de títulos, colecionou polêmicas vestindo a camisa rubro-negra, como no dia que saiu de campo, agrediu um torcedor que não parava de xingá-lo e voltou para o gramado, como se nada tivesse acontecido.
Foi pré-selecionado para a Seleção Brasileira junto com Caju, mas não chegou a atuar. Aposentou-se 10 anos depois, em 1952, dizendo que não faria sentido continuar jogando se não fosse pelo Athletico, tamanha foi sua identificação com o Clube nessa uma década.
Ele e o Athletico Paranaense vieram ao mundo no mesmo ano: 1924. Mas jogador e Clube só se encontraram pela primeira vez em 1942, quando Jackson deixou Antonina para jogar pelos juvenis do Rubro-Negro.
Não demorou muito, passou ao time titular. E entrou para a história como um dos maiores craques que já vestiram a camisa do Furacão. Meia, formou ao lado de Cireno a melhor ala esquerda do futebol paranaense.
Com Jackson em campo, o Athletico Paranaense conquistou os títulos de 1943, 1945 e 1949. Foi um dos cérebros e o grande maestro do Furacão, com lindas jogadas, passes incríveis e muitos, muitos gols. No total, foram 143 em 196 jogos com a camisa rubro-negra.
Em 1950, foi para o Corinthians. Voltou em 1953, para ser mais uma vez artilheiro do Estadual. E continuou colecionando títulos mesmo após encerrar a carreira de atleta. Em 1958, levantou o troféu do Estadual como treinador.
Após a eleição de Manoel Aranha para a presidência, o Rubro-Negro começou uma nova etapa de profissionalização, trazendo mais investimentos para dentro do Athletico Paranaense, implementando processos e contratando jogadores importantes para o time. E os resultados em campo provaram que o trabalho estava dando certo.
Em 14 partidas, o Furacão registrou incríveis 11 vitórias, dois empates e uma derrota. Seu ataque era fulminante, balançando o barbante 40 vezes. Guardando a meta, estava Caju, vazado apenas 12 vezes.
Mas o momento mais importante foram os jogos da final: pela primeira vez, teríamos um campeonato sendo decidido entre Athletico e Coritiba, os rivais da capital.
Dois jogos, duas vitórias rubro-negras pelo placar de 3×2. Athletico campeão!
Um lance na segunda partida virou uma lenda: Batista, mesmo com a perna machucada, marcou um gol para levantar os ânimos do time.
“Domina Ibarrola. Puxou pra esquerda. Mandou a bola pra área. Subiu Batistaaaaaaaaa… Goooooooooool”
Para se ter uma ideia, depois do jogo, Batista ficou duas semanas internado com a perna engessada.
Por quê? Porque Athletico também é sinônimo de raça.
O Athletico Paranaense começou o campeonato de 1945 de maneira espetacular. Campeão invicto do turno, melhor ataque e melhor defesa. A ideia de manter uma base sólida, com jogadores experientes e já campeões, dava certo. O Rubro-Negro, jogo a jogo, mostrava toda sua superioridade.
Naturalmente, no returno o ritmo da equipe diminuiu, e o certame ficou um pouco mais equilibrado. Bom para o campeonato, ruim para a torcida rubro-negra, que esperava o mesmo espetáculo e um título antecipado. Mas a verdade é que os deuses do futebol queriam, mais uma vez, que tudo fosse definido entre Athletico Paranaense e Coritiba. E foi assim que aconteceu uma das finais mais emocionantes do Estadual até hoje.
O Coritiba venceu o primeiro jogo em casa, pelo placar de 2×1. No segundo jogo, no Estádio Joaquim Amércio, o Athletico não quis dar sorte para o azar e começou avassalador, abrindo 3×0 em 30 minutos. Porém, uma atuação desastrosa do árbitro, combinada com o nervosismo do segundo tempo, fez com o que o rival empatasse a partida duas vezes. Primeiro 3×3, depois 4×4. Mas o time rubro-negro não desistiu e, dos pés de Cireno, veio o gol da vitória, de falta, nos últimos minutos. 5×4, vitória atleticana e taça decidida no terceiro jogo.
A partida, marcada em campo neutro e com arbitragem de fora, recebeu mais de oito mil torcedores. Um recorde para a época. O Coritiba começou melhor, mas o dia era de Caju, que realizou grandes defesas no primeiro tempo. O Athletico voltou para o segundo tempo melhor, inaugurando o marcador aos 25 minutos. E quando a torcida já comemorava o oitavo título de sua breve história, Neno, artilheiro do Coritiba, resolveu arriscar um chute de fora da área e acertou a gaveta do goleiro Caju, que nada pôde fazer. Final do tempo regulamentar. O Campeonato Estadual seria decidido na prorrogação.
O árbitro apita, o jogo é muito técnico, até que aos oito minutos a rede balança pela última vez em 1945. E o final você já sabe.
“Augusto recebe a bola, passa por Babi, toca para Cireno, que avança para o ataque. Fedalto vem para a marcação. Liiindo drible de Cireno. Cruzou. Xavier subiu mais que todo mundo. É gooooooool do Athletico. Gol do título…”
Um dos títulos mais importantes da história rubro-negra! Em 1949, o Athletico passou a ser chamado de Furacão. E o apelido não era nenhum exagero.
O escrete atleticano foi impiedoso nos dois turnos, aplicando goleadas nos seis primeiros jogos, sendo a mais emblemática um 5x1 contra o Coritiba, em pleno Belfort Duarte. Após duas rodadas do returno, boatos começaram a surgir de que equipes estariam dispostas a abrir mão do campeonato, tamanha era a superioridade do Athletico em campo. Obviamente, foi campeão com rodadas de antecedência e evitando uma disputa de final. Afinal, ganhou os dois turnos.
Sem mais adversários no Paraná, o time começou a marcar amistosos em outros Estados, e os resultados não foram muito diferentes.
No final da temporada, além do título, o Athletico Paranaense bateu o recorde de invencibilidade, registrando 11 vitórias e apenas uma derrota no campeonato.