Com a permanência do time campeão invicto, a impressão que se tinha era que ninguém poderia parar o Athletico em 1930. E foi isso mesmo que aconteceu.
Foi o ano do primeiro bicampeonato rubro-negro, com um gosto muito especial. Afinal, além de levantar a taça mais uma vez, ganhamos os dois jogos contra o Coritiba, provando nossa superioridade dentro de campo.
Na partida que decidiu o título, nem mesmo a vantagem do empate diminuiu o gás do Furacão. Com raça de campeão, o Athletico atropelou o rival, balançando as redes três vezes, com gols de Zinder Lins, Marreco e Levoratto. O Rubro-Negro comemorou novamente o título com uma rodada de antecedência!
Nascia uma grande rivalidade na terra das araucárias.
O hino do Clube Athletico Paranaense é motivo de orgulho para a torcida do Furacão. E não é por acaso. Além de representarem perfeitamente o sentimento dos atleticanos por seu clube, a letra e a melodia da canção rubro-negra têm uma história única no futebol brasileiro.
Ela começa em 1930, quando o Rubro-Negro conquistou o bicampeonato de forma invicta. Em homenagem ao feito, o meia-esquerda Zinder Lins compôs alguns versos, que eram cantarolados em ritmo de tango por seus companheiros e logo se tornaram conhecidos também pelos torcedores. A letra original era assim:
Athletico! Athletico!
Conhecemos teu valor
E a camisa rubro-negra
Só se veste por amor!
Vamos marchar sempre entoando
Esta gloriosa canção
E no peito ostentando
Nosso amado pavilhão
O coração atleticano
deve estar sempre voltado
Para as glórias do presente
E os feitos do passado
A tradição da nossa raça
Nos legou um sangue forte
Rubro-negro não tem jaça
E não teme a própria morte
A flâmula vermelha e preta
Representa esplendor
Todos cá desta baixada
A defendem com amor
É por isso e mais por isso
Que ecoa de Sul a Norte
Todos os homens rubro-negros
Descendem de raça forte
A poesia sofreu uma série de adaptações ao longo dos anos e, em 1968, finalmente ganhou uma melodia original. A música foi composta por Genésio Ramalho, dono de uma famosa orquestra curitibana da época e ex-jogador do Furacão, nos anos de 1937 e 1938.
Foi nesta ocasião o hino rubro-negro tomou sua forma definitiva, que todos conhecemos hoje. E o Furacão pode se orgulhar de ser o único clube que tem um hino composto pelo meia-esquerda e pelo ponta-direita da equipe!
Hino do Club Athletico Paranaense
Letra: Zinder Lins
Música: Genésio Ramalho
Athletico! Athletico!
Conhecemos teu valor
E a camisa rubro-negra
Só se veste por amor
Vamos marchar
Sempre cantando
O hino do furacão
E no peito ostentando
A faixa de campeão
O coração atleticano
Estará sempre voltado
Para os feitos do presente
E as glórias do passado
A tradição, vigor sem jaça
Nos legou um sangue forte
Rubro-negro é quem tem raça
E não teme a própria morte.
Foi em um dia frio do inverno curitibano que o Athletico se apresentou para o cenário nacional do futebol. Depois de conquistar o Campeonato Estadual sem perder nenhum jogo, o Rubro-Negro marcou amistosos com times de outros Estados para manter seu escrete entrosado e com ritmo de jogo.
Foram três jogos naquele ano, sendo o mais importante deles contra o Corinthians, invicto e considerado a melhor equipe da época. O dia era 21 de julho de 1930.
Promessa de grande jogo, Baixada do Água Verde lotada. O Athletico não decepcionou. Marreco, em dia muito inspirado, marcou seu primeiro tento no jogo, fazendo a alegria da torcida presente. Depois disso, o que se viu foi um Rubro-Negro muito superior em campo. E nem mesmo os outros dois gols de Marreco, mal anulados pelo árbitro, foram capazes de estragar a festa na arquibancada. Final: 1x0 para o Athletico e fim da invencibilidade da equipe paulista!
O primeiro jogo da temporada de 1933 estava marcado para 21 de maio. Mas dias antes da partida, um surto de gripe acometeu a maior parte dos jogadores atleticanos. O Clube pediu à Federação o adiamento. Foi atendido, desde que o adversário concordasse.
O adversário era o Coritiba. E não concordou. Antevendo a possibilidade de uma vitória fácil, o rival exigiu o cumprimento da tabela. E o jogo teve a data mantida.
O artilheiro Marreco tinha febre e vertia água pelas narinas. O goleiro Alberto sentia dores por todo o corpo. O grande zagueiro Zanetti parecia magro e enfraquecido. Era visível o estado debilitado da maioria dos rubro-negros.
Porém, mesmo gripados, os jogadores do Furacão entrariam em campo e fariam o possível. Entregar os pontos, jamais!
E assim foi o Athletico para a partida. O objetivo era apenas evitar uma goleada. Perder de pouco era uma vitória moral. Mas em campo, a camisa rubro-negra parecia dar aos atletas a energia que faltava.
Na base da superação, Raul Rosa marcou o primeiro gol atleticano. A reação adversária veio com o empate, instantes depois.
O Rubro-Negro se segurava. E apareceu uma falta na entrada da área para Marreco bater. Alguns contam que ele ainda limpou o nariz que escorria antes de correr para a bola e soltar um de seus famosos balaços.
Bola na rede! Athletico de novo na frente! E assim ficaria até o apito final. “Raça 2 x 1” era a manchete estampada nos jornais do dia seguinte. E assim ficaria conhecido o Rubro-Negro dali em diante: o “Time da Raça”!
Time rubro-negro no “Atletiba da Gripe”: Alberto; Zanetti e Normando; Canoco, Falcine e Cid; Naná, Marreco, Rosa, Mimi e Firmino.
Em 1933, Alfredo Gottardi estreou como goleiro pelo Athletico Paranaense. Chegou por influência de seu irmão Alberto, também goleiro do Clube, e em pouco tempo se tornou ídolo.
Caju era completo nos fundamentos, o que fazia sua baixa estatura para goleiro passar batida. Jogou 18 anos na equipe titular e foi o primeiro jogador rubro-negro a ser convocado para a Seleção Brasileira.
Um verdadeiro ídolo. Dentro de campo, conquistou seis títulos paranaenses. Fora dele, mostrou o amor à camisa rubro-negra e foi um exemplo para todos os amantes de futebol no Estado.
Com o time bicampeão desfeito no fim de 1930, o Athletico passou três anos trabalhando na estruturação do Clube. Em 1934, já era oficialmente proprietário do estádio da Baixada do Água Verde, agora denominado Joaquim Américo, nome que carrega até hoje.
No mesmo ano, depois de uma estratégia ousada da diretoria de mesclar na equipe principal profissionais experientes com jovens promessas, a equipe rubro-negra voltou a conquistar o Campeonato Estadual de forma incontestável. Foram cinco vitórias, quatro empates e apenas uma derrota.
Elenco: Caju; Canoco e Borba; Kormann, Falcine e Rosa; Naná, Mimi, Raul, Zinder e Cecatinho.
A ideia de mesclar jovens promessas com jogadores experientes dava certo e o trabalho com o time estava cada vez mais consolidado. A prova disso foi o resultado do Campeonato Paranaense de 1936.
Mais uma vez, o Athletico conseguiu o feito de ser campeão invicto e novamente em cima do rival Coritiba. Mas teve um algo a mais, algo inédito na competição. Com nove vitórias e três empates, o time rubro-negro garantiu a taça com três rodadas de antecedência. Algo impressionante para os moldes da época.